Análise da série Cangaço Novo (1ª temporada)
Demitido do banco e sem dinheiro para custear o tratamento médico de Ernesto (Ricardo Blat), seu pai adotivo, Ubaldo (Allan Souza Lima) encontra uma carta indicando que ele tinha uma herança para receber no estado do Ceará. Sem ter muito o que perder, o protagonista decide averiguar de perto a situação e vai até a pequena cidade de Cratará em busca de informações. O que o personagem não imaginava é que descobrir um passado do qual não tinha nenhuma recordação transformaria a sua vida completamente. Indo até um banco, ele toma conhecimento que possuía duas irmãs, Dinorah (Alice Carvalho) e Dilvânia (Thainá Duarte), e era sobrinho de Zeza (Marcelia Cartaxo).
Na instituição financeira, Ubaldo é informado que seu pai havia deixado algumas terras, mas elas foram dadas como garantia em um empréstimo feito por Zeza. Devido a inadimplência, a dívida já superava o valor de meio milhão de reais. Almejando solucionar essa questão, o banco faz uma proposta a Ubaldo, mas para aceitá-la era preciso a assinatura de todos os beneficiários da herança. Ao procurar suas irmãs, o personagem é até bem recebido por Dilvânia, mas as atitudes de Dinorah indicam que não havia nenhuma possibilidade de acordo. Com isso, o protagonista toma a péssima decisão de tentar resolver as coisas do seu próprio jeito, complicando e muito a sua situação, além de também não contar com a ajuda do destino.
Única integrante do sexo feminino de uma gangue conhecida por realizar assaltos violentos a bancos, Dinorah é uma mulher destemida e que não costuma ter papas na língua. Ubaldo presencia o que sua irmã é capaz de fazer e, para não ser morto, promete a ela e seus comparsas a elaboração de um plano de assalto que seria mais rentável a todos. Inicialmente o grupo parece não acreditar no que ele idealiza, mas o fato do personagem ter sido bancário e conhecer melhor esse meio pesa a seu favor. Pouco a pouco o protagonista vai ganhando a confiança das pessoas e suas atitudes mostram que ele pode ter puxado algumas características de Amaro Vaqueiro, seu pai biológico.
Desde o começo de Cangaço Novo, dá para perceber que Amaro foi uma pessoa muito conhecida naquela região, embora detalhes mais profundos sobre a sua trajetória de vida não sejam abordados. Todo começo de episódio apresenta flashbacks com cenas em preto e branco que nos revelam fatos da época em que Ubaldo era criança. No decorrer da temporada, descobrimos os motivos pelo qual o protagonista foi separado de sua família e deixou o sertão cearense. Dinorah e Dilvânia, por sua vez, foram criadas por Zeza e juntas elas comandam a Irmandade das Três, uma espécie de organização religiosa que acaba servindo de fachada para as atividades ilegais.
O retorno de Ubaldo a Cratará acontece em um momento politicamente delicado para a cidade. Gastão Maleiro (Bruno Bellarmino), cuja família está há anos no poder, é candidato à reeleição e tem como concorrente Paulino (Daniel Porpino), que busca conquistar votos entre os mais pobres. Casada com Paulino, Leinneane (Hermila Guedes) atua ativamente na campanha do marido, mesmo que o relacionamento entre eles não esteja no melhor momento. Ao se aproximar de Leinneane, Ubaldo, ainda que de forma indireta, acaba participando da disputa política, que se torna cada vez mais tensa e violenta. O filho de Amaro também ajuda sua família em um leilão de terras que muito interessa aos Maleiros e tenta mostrar para o grupo de assaltantes que eles poderiam alcançar o mesmo objetivo adotando um outro tipo de abordagem.
Embora eu não seja da região, enquanto assistia Cangaço Novo senti que a série buscou a todo momento valorizar a rica cultura nordestina. Isso é feito por meio de vários fatores, como o enredo, a escolha do elenco, os locais em que as cenas foram gravadas, a fotografia que registra a beleza da caatinga e até mesmo a participação especial de Lampião e Maria Bonita no sexto capítulo. Indo além de qualquer tipo de estereótipo, a trama aborda os problemas de uma cidade do interior, oportunidade em que explora a corrupção, dificuldade na distribuição de água e disputas políticas. O abuso sexual é outro elemento que marca presença, mas achei que faltou uma maior profundidade nessa parte do enredo.
Considerações finais
Quando assisti o trailer de Cangaço Novo, fiquei com a impressão que seria apenas outra série genérica de ação. Ao terminar o primeiro episódio, deu para perceber que a atração criada por Mariana Bardan e Eduardo Melo é bem mais do que isso: o capítulo de estreia é dinâmico e nos dá uma boa prévia do quão intensa é a história. O embate entre Ubaldo e Dinorah logo de cara chama a atenção, principalmente pelo belo trabalho desempenhado por Allan Souza Lima e Alice Carvalho, que transmitem ao público as várias nuances de seus personagens. Enquanto Ubaldo precisa se adaptar a um novo estilo de vida, sua irmã, que demonstra uma impressionante força exterior, é obrigada a lidar com seus sentimentos conforme o enredo se desenvolve. Menciono também a grande performance de Thainá Duarte, que sem dizer uma palavra manifesta todas as emoções de Dilvânia. Embora tenha citado apenas três nomes, todo o elenco merece elogios.
Outro ponto de destaque da atração do Prime Video são as excelentes cenas de ação, todas muito bem filmadas e montadas, indo de perseguições de carros a momentos tensos de tiroteios. Fotografia e trilha sonora são um espetáculo à parte. Abordando temas complexos, a narrativa é dinâmica e nos revela aos poucos detalhes importantes das histórias dos personagens. Apresentados de forma não linear, os flashbacks em preto e branco ajudam a contextualizar o passado da família Vaqueiro. Levando-se em conta tudo o que mencionei, Cangaço Novo é mais uma produção brasileira de alto nível.
Nota
★★★★★ – 5 – Excelente
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