Análise da série Dom (2ª temporada)
Atenção! O texto a seguir contém spoilers da segunda temporada de Dom.
A primeira temporada de Dom nos mostrou em detalhes como Pedro (Gabriel Leone) se tornou um dos bandidos mais procurados do Rio de Janeiro. Além das ações dele e de seus parceiros, a presença de policiais corruptos exemplifica como a luta contra o crime pode ser mais complexa do que aparenta. A cena final retratou Pedro sendo cercado pela polícia em um túnel, momento em que o personagem faz uso de uma granada para tentar escapar. A segunda temporada começa e termina nos apresentando breves cenas do que acontece na sequência, enquanto todos os demais eventos estão cronologicamente situados no passado.
Ao longo dos oito episódios do segundo ano, a série adota uma estrutura semelhante à vista anteriormente, dividindo a narrativa entre Victor (Flávio Tolezani/Filipe Bragança) e seu filho. O arco de Pedro é quase inteiramente ambientado oito meses antes do desfecho da temporada passada e inicia com os desdobramentos do sequestro forjado de Viviane (Isabella Santoni), estratégia que o protagonista encontrou para escapar da polícia. Com o grupo cada vez mais fragilizado, Quinado (Dhonata Augusto), um antigo conhecido de Viviane que vendia armas, passa a participar da prática dos atos criminosos. A parceria dos três dura pouco, já que algumas coisas não planejadas acontecem e a identidade de Pedro, que até então era conhecido como bandido gato, é revelada pela imprensa.
Diante desse novo panorama e com medo da polícia matar o seu filho, Victor incentiva Pedro a fugir do Rio de Janeiro e ir para um local em que ele não era conhecido. Como também tinha os seus problemas, Quinado decide acompanhá-lo e os dois partem em direção a Bahia. No meio do trajeto, quando estavam no Espírito Santo, eles conhecem uma garota na praia que os convida para ir até a sua residência. Após curtirem a noite com bebidas e drogas, Pedro e Quinado furtam alguns objetos de valor na residência antes de deixarem o local. A alegria, no entanto, dura pouco, já que ambos são abordados e presos pela polícia capixaba.
Estando sem o seu documento de identidade, o protagonista finge ser outra pessoa visando impedir que as autoridades policiais o identificassem, o que acaba funcionando. A partir desse momento, a série retrata o dia-a-dia de Pedro no Complexo Penitenciário de Vila Velha e as dificuldades que ele encontra para tentar fazer contato com sua família e Jasmin (Raquel Villar). Além disso, os guardas do presídio separam Pedro e Quinado, colocando cada um em um setor e fazendo com que eles fiquem juntos com presos de facções rivais. Isso atrapalha a comunicação entre os dois, tornando muito mais difícil qualquer tipo de ação. Essa parte da narrativa é bem desenvolvida e contribui para o aprofundamento do personagem principal, colocando-o em uma situação diferente daquela com a qual ele estava acostumado a lidar.
O arco envolvendo Victor é dividido em três linhas temporais. A primeira ocorre junto com a história de Pedro, em 2004, e mostra o personagem auxiliando o filho e tendo novamente contato com Paloma, a agente da Interpol com quem ele trabalhou na temporada passada. A segunda é ambientada em 1978, quando Victor já estava junto com Marisa; percebendo que trabalhava ao lado de policiais assassinos, ele se dá conta que não conseguiria seguir naquela realidade e consegue uma nova missão com Arcanjo: trabalhar no combate às drogas na Amazônia. Já a terceira linha temporal, ambientada no começo da década de 1970, é explorada com maior ênfase no episódio bônus e retrata o começo da sua carreira policial.
Na primeira temporada de Dom, a ideia de abordar o passado do pai de Pedro funcionou bem, principalmente por nos apresentar o trabalho de Victor no combate às drogas; mal sabia ele que anos depois o seu próprio filho estaria envolvido com os entorpecentes. No segundo ano, não era necessário retomar esse ponto da história, tanto é que os momentos mais desinteressantes são justamente aqueles envolvendo as ações de Victor em sua juventude. Algumas coisas parecem até não fazer muito sentido, como o fato de um recém chegado sair percorrendo a Floresta Amazônica como se conhecesse bem a região. Acredito que se a série tivesse deixado de lado o passado de Victor, o resultado final poderia ter sido melhor.
Considerações finais
Depois de uma ótima temporada de estreia, Dom infelizmente não conseguiu manter o mesmo padrão nos seus oito novos episódios. A produção do Prime Video segue contando com um ótimo elenco, com destaque para Gabriel Leone e Flávio Tolezani, bela direção e ambientação de época bem feita (mesmo às vezes cometendo pequenos deslizes), mas falha na condução do enredo. Explorar o tráfico internacional de drogas na Amazônia e o desaparecimento de pessoas durante a ditadura militar são temas relevantes para a nossa história, mas não se encaixaram bem na proposta da série.
Por mais que não apresente nada de inovador, já que inúmeras outras produções desenvolveram tramas em ambientes prisionais, a parte do enredo focada em Pedro me agradou muito. Já com relação a Victor, penso que os roteiristas inventaram demais e trouxeram poucas coisas que de fato acrescentam algo relevante para o enredo. Com uma terceira e última temporada já garantida, espero que a atração tenha um foco maior em Pedro Dom, mesmo que isso signifique um número menor de episódios.
Nota
★★★☆☆ – 3 – Bom
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