Análise do jogo Star Wars Outlaws

Em Star Wars Outlaws, a galáxia se desdobra em vários mundos abertos repletos de perigos, oportunidades e segredos. Na história, a ladra Kay Vess precisa conquistar seu espaço entre organizações criminosas enquanto busca se livrar da marca de morte colocada sob sua cabeça após um golpe malsucedido. Para finalmente virar o jogo a seu favor, Vess embarca em uma missão arriscada para recrutar os melhores criminosos da galáxia e realizar um golpe que estremecerá todo o submundo do crime.

A jornada começa devagar, com uma introdução às mecânicas de roubo e stealth. Essa abordagem inicial garante que os jogadores se adaptem rapidamente aos fundamentos do gameplay, mas o início se estende além do necessário, fazendo com que a trama do grande assalto, que é o pilar da campanha, demore muito para começar. A aventura se inicia de fato quando pousamos na lua Toshara, onde três organizações criminosas lutam pelo poder. É nesse ponto que o jogador assume o controle do veículo Speeder e finalmente recebe a liberdade de escolher entre progredir na história principal ou explorar mais a fundo os conflitos que Toshara tem a oferecer, com um sistema de reputação influenciando cada um dos seus passos.

São muitas as atividades disponíveis no mundo aberto, e, felizmente, a maioria delas não é repetitiva. Algumas missões secundárias envolvem contratos de roubo simples, enquanto outras vão mais longe, levando Kay a interceptar cargas no espaço. Além disso, há tarefas baseadas em pistas, ocasião em que a protagonista escuta sobre possíveis recompensas espalhadas pelo mundo e precisa investigar até encontrar seu objetivo, seja um item ou uma pessoa. Embora algumas dessas operações possam reciclar cenários já vistos na campanha e exigir muitas viagens até serem concluídas, a estrutura geral das secundárias é eficiente, oferecendo boas recompensas e interações divertidas, não se tornando algo cansativo. Como a evolução das habilidades da personagem está diretamente ligada a esses conteúdos, até tarefas simples ganham um propósito para serem executadas.

O sistema de habilidades de Star Wars Outlaws é bastante diferente do habitual: em vez de utilizar a mecânica tradicional de pontos de experiência, o jogo adota uma dinâmica baseada em metas específicas. Essas metas são oferecidas por personagens conhecidos como “especialistas” – que normalmente são encontrados em secundárias – e incluem objetivos variados, como a coleta de materiais raros, a realização de assassinatos furtivos ou a execução de manobras com o Speeder. Essa progressão funciona muito bem, incentivando diferentes abordagens de gameplay e oferecendo habilidades realmente úteis para Kay. Inicialmente, a protagonista não é especialmente poderosa, o que torna a evolução de seus atributos extremamente importante para os jogadores que buscam solucionar conflitos de forma agressiva. Ignorar tal mecânica certamente tornará o título consideravelmente mais desafiador, ao ponto de se transformar em algo frustrante, gerando situações em que o stealth será a única opção viável de progressão.

Momentos de combate explosivo podem ser provocados, no entanto esse definitivamente não é o foco da experiência. Até é possível carregar granadas, mas a protagonista não consegue levar muitas consigo, a menos que tenha desbloqueado uma habilidade específica. Outra alternativa é aproveitar o arsenal dos inimigos derrubados, que é consideravelmente vasto, porém, toda arma coletada do chão é imediatamente deixada de lado quando um movimento brusco for realizado. Na hora do tiroteio, seu mais fiel companheiro é o blaster, que tem um espaço fixo no inventário. Ele conta com diferentes tipos de tiro e pode ser aprimorado utilizando alguns itens encontrados pelo mundo aberto ou em secundárias. Esse combate restrito garante momentos extremamente divertidos: é preciso ter estratégia, definir qual tiro usar no blaster, quando pegar a arma de um oponente e a hora de assumir uma postura furtiva.

O stealth está no centro de Star Wars Outlaws. Arrombar portas, hackear câmeras e derrubar inimigos pelas costas compõem boa parte da jornada. Essas ações são complementadas por minigames: arrombamentos envolvem um desafio rítmico, enquanto os hacks são resolvidos através de um jogo de adivinhação. A peça central da furtividade é Nix, o parceiro e pet de Kay, que pode distrair, atacar e até roubar os inimigos, cuja inteligência normalmente é baixa, mas ocasionalmente contam com lapsos de consciência inexplicáveis, oferecendo um desafio relativamente alto. O pequeno é fundamental nos momentos de infiltração, mas conforme a campanha avança, suas utilidades caem na mesmice, tornando essas seções muito monótonas. Felizmente, as partes que exigem discrição se tornam menos frequentes ao longo da história. Quando necessário, Kay pode entrar em sessões de combate corpo a corpo, que se resumem a apertar um mesmo botão várias vezes até que o inimigo seja derrubado. Embora simples, esse é um aspecto secundário e não chega a incomodar em momento algum.

O uso de veículos é outro elemento bem mais dispensável do que aparenta. A nave Trailblazer é essencial para o desenrolar da trama, assegurando o transporte entre os planetas. No entanto, em termos de gameplay, sua importância é bastante limitada. Assim como o blaster, o cargueiro pode ser aprimorado, mas nenhuma evolução torna sua jogabilidade menos superficial. Além do mais, a nave é utilizada em pouquíssimos momentos ao longo da jornada, tornando-se completamente esquecível e dispensável. Por outro lado, o Speeder, veículo utilizado em terra, desempenha um papel importante na locomoção pelos locais inóspitos dos planetas visitados. Ele oferece uma dirigibilidade funcional e divertida, tornando a exploração mais agradável. Ainda assim, esse veículo não conta com opções de personalização transformadoras e eventualmente acaba tendo sua utilidade substituída pelo uso das viagens rápidas.

Os diferentes mundos apresentados no jogo são visualmente belos. Tanto os planetas inéditos quanto os já conhecidos são retratados com altos níveis de detalhes, incluindo uma variedade de NPCs, áreas urbanas populosas, vastas regiões de natureza exuberante e uma série de minigames que tornam a galáxia viva. Além das missões secundárias bem integradas a esses ambientes, a campanha reserva uma linha de tarefas específica para cada planeta, garantindo que nenhum deles seja subaproveitado. Os mapas abertos dos mundos são amplos, mas não excessivamente massivos, permitindo uma exploração mais fluida e contida, raramente interrompida por algum tipo de bug. Com áreas dominadas pelos sindicatos do crime e pelo Império, a sensação de estar num universo cheio de perigos se mantém constante, equilibrando a exploração descompromissada com uma ameaça contínua ao longo da experiência.

Nesse cenário perigoso, a mecânica de reputação se mostra essencial e cada ação de Kay gera uma reação no submundo do crime. Se a protagonista realiza uma missão que favorece o sindicato dos Pykes, mas desfavorece o Cartel Hutt, a forma como ela é vista pelas duas facções muda. Os Pykes podem começar a enxergá-la com bons olhos, liberando acesso em suas bases e disponibilizando mais oportunidades de serviço. Já os Hutts provavelmente irão dificultar as atividades da protagonista em seu território. O interessante desse sistema é que a reputação funciona de forma realista: para ser totalmente respeitado por um grupo, você terá que ajudá-lo em várias ocasiões, e para ser caçado por outro, você deve tê-lo comprometido em diferentes momentos. Além disso, existe a possibilidade de trair seus contratantes e favorecer quem lhe oferecer mais créditos, o que adiciona camadas até nas tarefas simples. O único defeito desse sistema é que os benefícios e as represálias de suas decisões pouco se aplicam à campanha, onde, independentemente de sua fama, o caminho pré-determinado pela história será seguido.

Como toda boa produção de Star Wars, o game conseguiu emplacar alguns excelentes personagens. Kay Vess é uma protagonista durona, mas muito inocente quanto ao denso submundo do crime em que entrou. Junto de seu fofíssimo parceiro Nix — um show de carisma por si só —, ela mostra seu lado mais calmo e sentimental. O droide ND-5, parte essencial da trama do grande roubo, é outro destaque, sendo um robô cheio de dilemas e camadas. Existem também alguns coadjuvantes agradáveis, porém, apesar de bem introduzidos, todos são mal desenvolvidos ao longo da trama. O mesmo vale para o antagonista, que até parece ameaçador, mas não tem aparições o suficiente para ser memorável. As expressões faciais também não ajudam na imersão, transformando diálogos que poderiam ser ameaçadores em situações quase robóticas. A trilha, felizmente, mantém o alto padrão da saga, oferecendo desde músicas épicas até melodias mais calmas, perfeitas para momentos de contemplação.

Desenvolvido pela Massive Entertainment e lançado em 30 de agosto de 2024, Star Wars Outlaws está disponível para PlayStation 5, Xbox Series e PC. Esta análise foi feita com base na versão do Xbox Series S com uma cópia fornecida pela Ubisoft Brasil.

Considerações finais
Star Wars Outlaws apresenta uma galáxia vasta e detalhada, mas enfrenta desafios na execução de sua narrativa e mecânicas. A jornada de Kay Vess começa lenta, mas quando engrena, oferece um mundo aberto realmente agradável, com tarefas secundárias diversificadas e uma mecânica de habilidades inovadora e extremamente funcional. O sistema de reputação acrescenta seriedade em cada atividade realizada, garantindo que as ações do jogador tenham consequências nos planetas, por mais que isso não reflita no desenrolar das missões principais.

As sessões de tiroteio são muito bem executadas, com uma variedade de modificações do blaster, upgrades, armas de inimigos e granadas. No entanto, o stealth enfrenta sérias dificuldades em se sustentar, comprometendo parte da jornada devido a uma IA inconsistente e muita repetitividade. A sensação é que os desenvolvedores precisavam de mais tempo para refinar certos elementos, como a nave Trailblazer, que muitas vezes parece deslocada do restante do projeto. Além disso, a narrativa é prejudicada por expressões faciais ruins e personagens subutilizados, afetando a imersão e a profundidade do que poderia ser uma grande história.

★★★☆☆Bom
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