Análise do jogo Life is Strange: Double Exposure
Quando chegou ao mercado em 2015, Life is Strange chamou a atenção por sua história intensa, colocando nas mãos do jogador a missão de tomar algumas decisões difíceis. De lá para cá, a franquia ganhou outros títulos que também tiveram tramas bem desenvolvidas, sempre abordando temas relevantes, mas a jornada de Max Caulfield e Chloe Price seguiu sendo a minha preferida. Quando a Square Enix anunciou Life is Strange: Double Exposure, me veio um mix de emoções: felicidade em poder reencontrar a personagem e temor do que isso poderia significar. A trajetória de Max foi tão bem amarrada no primeiro jogo, será que precisávamos mesmo dessa continuação?
Life is Strange: Double Exposure se passa anos após os fatos ocorridos em Arcadia Bay e mostra Max em sua versão adulta. Tendo rodado pelos Estados Unidos, ela ficou conhecida por suas fotos em locais abandonados, o que lhe rendeu um convite para se juntar à Universidade Caledon como Artista Convidada. Em razão disso, Max se muda para a cidade de Lakeport e rapidamente cria um vínculo de amizade muito forte com Safi, a filha da reitora da universidade. Em sua nova estadia, ela acaba entrando em contato com outras pessoas que frequentam o campus da instituição de ensino e aos poucos toma conhecimento sobre fatos polêmicos ocorridos no passado.
Certa noite, Safi é misteriosamente baleada e encontrada morta no campus da universidade, o que deixa toda a comunidade local abalada. No caso de Max, que já havia vivenciado uma situação trágica no passado, encarar mais uma vez a perda de uma pessoa próxima não é uma tarefa simples. Mesmo estando há anos sem usar seus poderes e sabendo de todas as consequências que causou no passado, Max decide agir para descobrir o que de fato aconteceu com sua amiga. A protagonista então descobre que ainda possuía habilidades especiais, mas ao invés de retroceder no tempo, Max encontrou uma forma de transitar entre duas linhas do tempo: aquela em que Safi foi morta e outra em que ela permanece viva. Interagindo com os mundos, ela fará de tudo para evitar que o pior aconteça.
Dando sequência à trajetória de Max, no início da aventura precisamos escolher o que aconteceu com Chloe: trata-se de uma decisão simples baseada no desfecho do primeiro game, podendo o jogador seguir com aquilo que decidiu anteriormente ou optar por um novo caminho. Embora não seja necessário ter previamente jogado Life is Strange, eu não recomendaria a um novato ir direto para Double Exposure. Além dessa decisão não ter peso algum para quem não conhece o passado, ela gerará diversas referências ao longo da nova jornada de Caulfield.
O enredo do título é dividido em cinco capítulos e infelizmente não faz jus ao legado de Max e Chloe. Até o terceiro episódio estava realmente curtindo bastante a história, mas nos dois últimos capítulos as coisas desandaram um pouco; a narrativa adota um ritmo acelerado e se mostra confusa e superficial. Senti também que as escolhas na reta final passam a não ter um peso tão forte quanto o visto em outros jogos da série, o que é uma pena.
Life is Strange: Double Exposure conta com um elenco inclusivo e que no geral tem um desenvolvimento satisfatório, mas há exceções. Para citar um exemplo, logo após Safi ser encontrada morta, o detetive Alderman assume a investigação do caso e fica encarregado de descobrir o que aconteceu com a jovem. O personagem é bem introduzido e tem até alguns confrontos interessantes com Max, mas sua participação no restante da aventura deixa a desejar. Sem entrar em muitos detalhes, uma coisa relativamente impactante acontece com o investigador no capítulo três e… fica por isso mesmo. Alguns poucos detalhes sobre o passado do detetive até vêm à tona, levantando mais questionamentos do que explicações. Após isso, parece que o personagem nunca existiu na história.
A jogabilidade segue o padrão já visto nos outros títulos da franquia, baseando-se na interação com personagens e objetos e na tomada de decisões. A grande novidade fica por conta da possibilidade de alternar entre as linhas do tempo em que Safi está viva e morta. Depois que o recurso é desbloqueado, podemos facilmente ir de um mundo para o outro, basta encontrar locais específicos no ambiente, sempre marcados por um zumbido característico, e apertar um botão para a mudança acontecer instantaneamente, sem nenhum tipo de carregamento. Outro recurso disponível é o pulsar, possibilitando que vejamos o que está acontecendo na outra linha temporal em tempo real, sem ter que fazer a mudança. Os dois recursos são bem empregados no decorrer da aventura, mostrando que o estúdio Deck Nine fez um bom planejamento de como essas mecânicas seriam utilizadas.
Falando dos gráficos, temos um visual cartunesco já característico da franquia, obviamente com melhorias por se tratar de um jogo desenvolvido exclusivamente para as plataformas mais recentes. Particularmente gosto de jogos com essa pegada gráfica e Life is Strange: Double Exposure não decepciona nesse quesito. A caracterização dos personagens é bem feita, assim como os diversos ambientes do game, algo importante quando falamos em títulos com foco na exploração. A experiência é complementada com uma trilha sonora fenomenal e uma dublagem muito boa, tornando a jogatina ainda mais prazerosa.
Quando falamos do desempenho, Double Exposure oferece duas opções gráficas nos consoles: o modo qualidade, que prioriza o visual e conta com uma taxa de quadros máxima de 30 fps, e o modo desempenho, com menor fidelidade gráfica e taxa de quadros mais alta e suave, com no máximo 60 fps. Comecei jogando o título no modo qualidade, mas acabei mudando para o desempenho pelo fato da movimentação estar me incomodando (ao que parece o motion blur não estava muito legal). No modo desempenho cheguei a notar algumas quedas na taxa de quadros, mas a movimentação estava mais agradável. Independente de qual opção estivesse ativa, presenciei pequenos engasgos em certos momentos, nada que chegasse a incomodar muito.
Durante as minhas quase 17 horas de gameplay, me deparei com alguns bugs gráficos, problemas que certamente serão corrigidos com atualizações. No capítulo dois, Max tinha como objetivo acessar o conteúdo da maleta do professor Lucas. Alternando entre as linhas temporais, chegou um momento em que a maleta simplesmente apareceu aberta em cima da mesa, embora eu não fosse capaz de interagir com os documentos que estavam dentro dela. Somente após conseguir a chave para efetivamente destrancá-la é que de fato ela foi aberta. Na hora cheguei até a achar estranho, mas logo notei que se tratava de um pequeno erro. Tirando esses detalhes, não houve nada que chegasse a comprometer a experiência e em momento algum tive que reiniciar o game devido a alguma falha.
Life is Strange: Double Exposure está disponível a partir de hoje para PC, PlayStation 5 e Xbox Series. Futuramente o jogo também será lançado para Nintendo Switch. Esta análise foi feita com base na versão do Xbox Series X com uma cópia fornecida pela Square Enix Brasil.
Considerações finais
Life is Strange: Double Exposure reúne praticamente todos os elementos que consagraram a franquia, mas derrapa naquele que talvez seja o mais crítico: a história. Em todos os títulos lançados até então, sempre tivemos enredos e personagens bem construídos, no entanto esse mesmo padrão não é visto aqui. Não quero ser mal compreendido: a narrativa não é de todo ruim, mas houveram pontos que poderiam ter sido desenvolvidos e trabalhados com um maior cuidado. Felizmente isso não aconteceu com Max: a personagem, que é a principal razão do jogo existir, é explorada de forma satisfatória ao longo de toda a aventura.
O principal destaque da jogabilidade é a forma com que utilizamos os poderes da protagonista para tentar desvendar a morte de Safi. A transição entre as duas linhas temporais funciona extremamente bem e foi utilizada de forma satisfatória pelos desenvolvedores no decorrer do game. Ao visual e a trilha sonora tenho somente elogios. No final das contas, Life is Strange: Double Exposure é um bom jogo, porém fica abaixo daquilo que esperamos para um título da série.