Análise do jogo Dragon Ball: Sparking! Zero
Dragon Ball: Sparking! Zero chegou ao mercado em outubro como um furacão: 17 anos depois do aclamado Budokai Tenkaichi 3 (conhecido no Japão como Sparking! Meteor), as expectativas para a sequência estavam nas alturas. O novo título prometia reviver a essência da série, trazendo um elenco robusto de lutadores, agora incluindo heróis, vilões e as transformações apresentadas em Dragon Ball Super. Com lançamento exclusivo para PC e consoles da nova geração, o jogo busca alcançar um novo patamar visual, retratando as batalhas mais megalomaníacas vistas na série através de empolgantes momentos de gameplay. A tarefa era difícil, e nesta análise dissecaremos todos os pontos relevantes da experiência.
A campanha de Sparking! Zero revisita a história épica de Dragon Ball Z e Dragon Ball Super, optando por pular a fase clássica e ignorar todo o material não escrito por Akira Toriyama. A narrativa se fragmenta em oito perspectivas diferentes, acompanhando Goku, Vegeta, Gohan, Trunks, Piccolo, Freeza, Goku Black e Jiren. As sagas são recontadas de forma bastante direta, com boa parte das cutscenes funcionando através de imagens quase estáticas, com apenas vozes e trilha sonora. Esse formato é bastante prático, afinal a campanha de muitos personagens conta com momentos bastante similares, seguindo fielmente o que ocorreu nos 298 episódios adaptados. Algumas cenas mais específicas contam com animação própria, oferecendo, inclusive, uma opção de perspectiva em primeira pessoa, mas infelizmente não foram todos os momentos chave que receberam tal tratamento.
Um dos pontos altos da experiência é, sem dúvida, o nível de dificuldade, que desafia os jogadores a se aprofundarem nas mecânicas de combate para progredir. Esse aspecto não só engrandece ainda mais as batalhas, como também valoriza as rotas alternativas – que normalmente dependem de muito trabalho duro para serem alcançadas. Esses cenários de what if estão espalhados por diversos pontos de Sparking! Zero, sendo acessados por meio de escolhas narrativas ou pela resolução rápida de uma luta. Algumas mudanças no enredo podem ser simples, apenas antecipando o final de uma saga, enquanto outras ramificações transbordam de criatividade, gerando linhas do tempo completamente inéditas, recheadas de combates inusitados e situações inesperadas. Por mais que alguns desses momentos contenham sequências realmente cinematográficas, boa parte das cutscenes se apresentam quase como um slide show.
A riqueza das rotas alternativas contrasta fortemente com algumas omissões inaceitáveis da campanha principal. A ausência dos materiais fillers é compreensível, mas até mesmo eventos-chave de Dragon Ball Super foram retirados. A história de Son Goku é a menos prejudicada, e até ela carece da saga do Universo 6, onde a emblemática luta entre Goku e Hit acontece. Vegeta, o coprotagonista da série Super, simplesmente não ganhou nenhuma missão ambientada nos mais de 131 capítulos da obra. Mirai Trunks, que aparece apenas em duas sagas da franquia, tem uma delas totalmente cortada. Além disso, o filme de maior sucesso da série, Dragon Ball Super: Broly, cujo antagonista estampa a capa do game, também não foi adaptado na trama. Já Dragon Ball Super: Super Hero, o recente longa-metragem que deu protagonismo a Gohan e Piccolo, não tem nenhum de seus elementos inclusos no título, estando prometido como uma expansão paga cujo conteúdo ainda não foi totalmente revelado. Quanto à série clássica, o único elemento presente aqui é a versão infantil do protagonista.
A variedade de cenários em Sparking! Zero é significativamente inferior à de seu antecessor, resultando em alguns combates ao ar livre que deveriam ocorrer em pontos distintos, mas que acabam reduzidos a uma mesma localidade, tornando a jogatina mais monótona. Essa limitação também afeta a diversidade de arenas nos torneios, um modo resgatado dos clássicos e muito bem atualizado. Em um título tão generoso na quantidade de lutadores, é estranho que os cenários não tenham recebido a devida atenção. No entanto, isso não significa que o jogo necessite urgentemente de atualizações a fim de evitar a repetitividade. Na verdade, ele está sendo constantemente atualizado pela própria comunidade. O game oferece uma ferramenta brilhante que permite aos jogadores criar e compartilhar suas próprias batalhas, inserindo legendas originais para contextualizar as lutas e modificando as condições de combate. É claro que isso seria ainda mais divertido se houvesse vários possíveis palcos para as batalhas, mas mesmo assim, as possibilidades garantidas pelo recurso se mostraram abrangentes e bem utilizadas pelos fãs.
O amplo elenco de lutadores é o maior êxito do jogo. As ausências são poucas, se limitando aos personagens de Dragon Ball clássico e o filme Super Hero. De resto, só faltam alguns coadjuvantes, que podem até ser memoráveis, mas não prejudicam a experiência. É impressionante como até mesmo as transformações ganharam grande destaque, contendo ataques completamente particulares e bem animados. Não importa o quão irrelevante seja o guerreiro, se ele está no game, terá técnicas individuais e uma jogabilidade própria. Claro, a graça da franquia é que alguns personagens sejam escandalosamente mais fortes que outros, porém isso jamais faz com que seja chato usar alguém menos poderoso. Há uma ampla gama de skins a serem desbloqueadas com o dinheiro ganho no jogo, todas remetendo a momentos específicos da obra. Como muitos personagens não estão disponíveis inicialmente, há uma sensação divertida de se esforçar para conquistá-los e depois customizá-los. Também temos alguns acessórios que podem ser inseridos nos lutadores, embora essa funcionalidade ainda seja um tanto limitada.
Com uma curva de aprendizado acessível, o combate permite que qualquer jogador comece a se divertir rapidamente, mas oferece uma profundidade extra para aqueles que desejam dominar os combos e aperfeiçoar o timing dos super ataques. Além disso, é possível ajustar a IA dos inimigos e aplicar boosts de poder nos lutadores, adicionando um toque de estratégia aos embates. Para incrementar a competitividade, o jogo também oferece um sistema de provocações que os guerreiros podem usar durante as batalhas, assim chateando seus inimigos de forma divertida. Outro destaque é o modo baseado em pontos de poder, que limita o número de personagens a serem escolhidos com base em sua força. Isso promove batalhas mais equilibradas e desafiadoras, seja contra a IA ou em emocionantes disputas multiplayer. Dessa forma, surge uma vertente mais justa de confronto, perfeita para aqueles que não se dão muito bem com a megalomania tradicional dessa franquia.
No modo multiplayer online de Dragon Ball: Sparking! Zero, a experiência é rica, embora tenha alguns percalços. Apesar de utilizar uma conexão cabeada de internet, enfrentei alguns problemas ao tentar ingressar em partidas. No entanto, uma vez conectado, me deparei com um serviço muito competente, repleto de opções que vão além do combate. É possível customizar completamente seu perfil, seguir outros jogadores e até defini-los como rivais. E aos que gostam de ver grandes conflitos, também dá para assistir as lutas de outros players e interagir enviando figurinhas divertidas. Nas lutas, a graça está no caos. Com uma ampla variedade de filtros aplicáveis para se buscar uma batalha, sempre é possível cair em uma luta razoavelmente equilibrada, porém, as mais épicas são justamente aquelas completamente imprevisíveis, onde você pode se deparar com times overpower ou totalmente disfuncionais. Envoltas de explosões espetaculares, as lutas resgatam a essência empolgante da franquia, criando confrontos memoráveis sempre que um jogador habilidoso é encontrado. Entretanto, a ausência de crossplay torna as buscas por uma partida, principalmente se você estiver usando algum filtro, um tanto demorada.
Os visuais de Sparking! Zero são verdadeiramente impressionantes, sendo fiéis ao traço vibrante do filme Broly. A beleza visual do longa foi plenamente capturada, compensando as cutscenes pouco elaboradas da campanha; cada batalha é tão imersiva que parece uma cena pré-renderizada em movimento. Esse capricho se estende a diversos outros aspectos, como os menus, que são altamente interativos e cheios de carisma, proporcionando uma navegação que, embora lenta, é rica em detalhes. Até mesmo a opção de conferir o modelo dos personagens se transforma em uma experiência divertida, com comentários de personagens importantes sobre cada lutador. A trilha sonora, por outro lado, não se destaca como poderia. Teria sido de fato impactante se, ao invés das músicas pouco memoráveis que acabaram no jogo, ela incluísse a trilha icônica do anime. Por outro lado, os efeitos sonoros estão perfeitos, e a possibilidade de escolher músicas específicas durante as lutas do modo Versus ameniza o problema com as melodias. É uma pena que o modo split-screen funciona em um único mapa.
Ao mergulhar a fundo no game, fica claro que se trata de uma experiência robusta e duradoura, feita visando manter os jogadores envolvidos por muito tempo. O conteúdo é vasto e diversificado, garantindo sempre algo novo a se descobrir. Para além das lutas emocionantes, a busca pelas esferas do dragão se destaca, podendo ser conquistada em batalhas ou ao completar desafios divertidos. Reunindo essas esferas, você desbloqueia personagens, trajes e uma série de extras realmente interessantes. Os três dragões da franquia estão aqui, cada um com sua função específica na hora de realizar desejos, tornando a jogatina ainda mais recompensadora. A decepção fica por conta de, no meio de tanto conteúdo, só haver duas dublagens disponíveis, japonês e inglês, o que certamente é um golpe duro no coração dos fãs que cresceram com as vozes memoráveis da dublagem brasileira.
Desenvolvido pela Spike Chunsoft e lançado em 10 de outubro de 2024, Dragon Ball: Sparking! Zero está disponível para PlayStation 5, Xbox Series e PC. Esta análise foi feita com base na versão de Xbox Series S com uma cópia fornecida pela Bandai Namco Brasil.
Considerações finais
Dragon Ball: Sparking! Zero é um dos poucos jogos que, apesar de ter defeitos perceptíveis, mantém sua grandiosidade e ambição intactas. A forma pífia com que a campanha é contada e a baixa variedade de cenários são problemas facilmente ofuscados pela mecânica de combate extremamente divertida e pela extensa lista de personagens que, com um alto capricho técnico, mantém a jogabilidade diversificada e empolgante mesmo nos pontos baixos.
No fim das contas, o game captura com maestria a essência de Dragon Ball Z, proporcionando batalhas intensas em um título que transborda carinho e atenção. Cortes na história incomodam, mas isso é contornado pela adição genial de rotas what if muito criativas. Para os que amam os momentos megalomaníacos vistos na obra de Akira Toriyama, o título fornece a experiência jogável definitiva, celebrando com pompa os quarenta anos da história que marcou gerações.