Análise do jogo Marvel’s Spider-Man 2

Sempre que penso em sequência de jogos bem sucedidos, acredito que os desenvolvedores encontram dois grandes desafios: criar algo que faça jus ao legado que foi estabelecido e apresentar novidades capazes de evoluir aquilo que já funcionava bem. Com Marvel’s Spider-Man 2 a Insomniac Games buscou expandir o escopo da aventura apresentando uma Nova York maior, abrangendo novas áreas da cidade, e uma história protagonizada por dois personagens: Peter Parker e Miles Morales. Depois de chegar ao PlayStation 5 em 2023, o título agora desembarcou no PC, permitindo que um novo público vivencie a experiência de novamente se tornar o Spider-Man, só que desta vez em dose dupla.

Ambientado quase dois anos após os eventos do primeiro jogo, Peter está tentando dar um novo rumo à sua vida. Depois de uma experiência não muito positiva no seu antigo trabalho, ele conseguiu um novo emprego e começa a dar aula de física, tendo Miles como um de seus alunos. Logo o personagem percebe que seria um tremendo desafio conciliar suas rotinas de herói e professor, já que nunca se sabe quando algo de ruim vai acontecer nas ruas de Nova York. Por outro lado, ele agora não está sozinho e conta com a ajuda de Miles para lidar com os problemas da cidade. Já nos primeiros minutos de gameplay temos uma amostra de como eles irão trabalhar juntos: os Spiders se veem obrigados a encarar Sandman, que está em surto e espalhando areia por todo lado. Dando sequência ao início agitado do game, acompanhamos um breve clipe de Kraven antes dele chegar à metrópole estadunidense para iniciar sua nova caçada.

O começo intenso de Marvel’s Spider-Man 2 destaca uma de suas principais qualidades, a narrativa: o jogo que sabe trabalhar muito bem os seus protagonistas, antagonistas e personagens secundários. Como desta vez temos dois protagonistas, o título da Insomniac Games cuida de trabalhar os núcleos de cada personagem. No lado de Peter, a trama explora o aprofundamento de seu relacionamento com Mary Jane e o reencontro com Harry Osborn, um velho amigo que enfrentou recentemente um quadro complicado de saúde. Já o arco de Miles aborda o seu grupo de amigos na escola, sua mãe e os desafios que ele encontra para ingressar na faculdade. Essas duas partes da história acabam se entrelaçando, criando uma base narrativa que muito me agradou.

Dois outros elementos relevantes do enredo são as presenças do simbionte e Venon. Isso não chega a ser um spoiler, já que ambos foram abordados pelos desenvolvedores antes do lançamento do game, mas não entrarei em maiores detalhes para não interferir na experiência de quem ainda não jogou Spider-Man 2. O que posso dizer é que a partir do momento que ambos são inseridos na história, os heróis passam a lidar com novos tipos de desafios. O traje preto de Peter Parker tem atributos poderosos, mas também representa perigo.

A presença de dois Spider-Man torna o jogo dinâmico e de certa forma até mais variado. Podemos facilmente alternar entre ambos os personagens, troca que acontece quase instantaneamente. A maioria das missões pode ser completada tanto por Peter quanto Miles, porém existem objetivos que precisam obrigatoriamente ser jogados com um personagem específico. Também é comum que o game automaticamente alterne entre os heróis em momentos pré-determinados durante uma missão. Tal como acontece no primeiro jogo da franquia, há momentos em que assumimos o controle de Mary Jane, o diferencial é que desta vez os trechos com a jornalista estão mais interessantes e não se limitam a executar ações de forma furtiva. Spider-Man 2 também reserva espaço para abordar o lado humano dos heróis, oportunidade em que as relações dos protagonistas com outros personagens são exploradas.

Seguindo o padrão já conhecido da franquia, a jogabilidade ganhou novos elementos, proporcionando um leque amplo de opções em situações diversas. Com um mapa maior, além de balançar pela cidade, podemos fazer uso das asas de teia, recurso que permite que os Spiders planem pelo ar e cheguem ao destino mais rapidamente. Os túneis de vento e as correntes ascendentes espalhadas por toda a metrópole colaboram para a realização desses voos, tornando bem prático o deslocamento com essa mecânica.

No combate, agora podemos definir os tipos de habilidades dos dois personagens. Há quatro espaços disponíveis e o jogador pode escolher qual variação de ataque utilizar em cada um deles. Os dispositivos estão de volta e mostram-se ferramentas bastante úteis durante os confrontos. Tanto os ataques quanto os dispositivos são facilmente acessados e os seus ícones estão visíveis na tela o tempo todo, algo importante, já que eles só podem ser utilizados novamente após serem recarregados. Nas abordagens furtivas, o novo recurso linha de teia permite criar fios para deslocar pelo ambiente e realizar ataques por cima. A linha de teia é ótima para definir estratégias de ataque, principalmente em áreas cheias de inimigos.

Embora em muitas ocasiões há a possibilidade de seguir sem ser notado, o game se destaca mesmo é nos momentos de ação. A maior variedade de oponentes nos obriga a agir de formas diversas durante os confrontos, o que de certa forma aumenta o desafio. Como tudo é introduzido aos poucos, a experiência nos momentos de luta é sempre divertida e satisfatória. Os combates na reta final se tornam frenéticos, um reflexo do caos vivenciado pela cidade.

Sempre que subimos de nível ganhamos pontos de técnica para desbloquear novos ataques e movimentos. Além de uma árvore compartilhada de técnicas, cada herói possui a sua própria árvore. Outras formas de evoluir os personagens são melhorar os dispositivos e aprimorar as tecnologias do traje. Falando em traje, há diversas opções disponíveis para serem desbloqueadas, sendo que alguns contam com variações de cores. Para obter novas vestimentas, melhorar as tecnologias do traje e os dispositivos é preciso realizar atividades secundárias para conseguir os recursos necessários.

Como acontece em muitos jogos de mundo aberto, Marvel’s Spider-Man 2 sofre com a repetição de atividades secundárias, embora sinto que tenha havido uma pequena evolução. Nesse campo, os destaques ficam com as solicitações do SMAV e os pedidos da Brooklyn Visions, que nos levam a encarar objetivos diversos, como investigar o que está acontecendo no quintal de uma idosa cega e ajudar um estudante a realizar um convite para o baile de formatura. Um grupo de missões secundárias identificadas como A Chama também se sobressai, não só pela trama, mas por envolver alguém conhecido.

Nos confrontos contra os chefes, percebemos que houve uma atenção especial por parte da Insomniac. Comparado com Marvel’s Spider-Man, as batalhas estão mais trabalhadas, intensas e exigem uma maior atenção do jogador. O esquema continua o mesmo: entender o comportamento do adversário para esquivar, aparar ataques e desferir golpes nos momentos certos. Os embates seguem divididos em atos, que contam com pequenas variações até a conclusão.

Com relação aos elementos audiovisuais, o título impressiona pela beleza gráfica e riqueza de detalhes. A cidade está ainda mais bonita, sendo um prato cheio para os amantes do modo foto. Além disso, é surpreendente a forma com que Nova York sofre transformações conforme avançamos na história. A caracterização dos personagens, em especial os rostos, mostra o alto nível do trabalho desempenhado pelo estúdio. A parte sonora também não decepciona e conta com ótimas músicas e efeitos. Quanto ao trabalho da equipe de dublagem brasileira, só tenho elogios a fazer.

Desde o começo vi com bons olhos a iniciativa da Sony de levar os seus jogos para o PC, possibilitando que mais jogadores tenham contato com tais obras. Por outro lado, espera-se que esses lançamentos cheguem devidamente otimizados para uma vasta gama de hardware. Com Marvel’s Spider-Man 2 as coisas foram um pouco estranhas, já que a companhia japonesa revelou os requisitos um dia antes do seu lançamento. O título chegou ao mercado com diversos problemas, algo que poderia ter sido evitado, mesmo que isso implicasse em um eventual adiamento.

Cenários com elementos piscando e pedaços de cabelos borrados foram coisas que notei diversas vezes. Durante uma missão, o rastro que deveria indicar um caminho a ser seguido acabou se transformando em um grande tubo branco. Também notei pequenos engasgos, denotando a necessidade de uma melhor otimização, mas não foi algo que comprometeu a experiência, já que nos momentos de ação o game rodou sem gargalos. Em minhas mais de 22 horas de jogatina, enfrentei apenas problemas na parte gráfica, não presenciei fechamento abrupto ou nada do tipo. Felizmente diversas atualizações com correções já foram liberadas, mas é uma pena que o jogo tenha chegado ao mercado com vários problemas.

Com relação ao desempenho, jogando em uma RTX 3060 12 GB com a predefinição alta e ray tracing desativado, após os patchs de correção a taxa de quadros média se manteve superior a 60 FPS em diversos cenários. As movimentações estão fluidas, seja no combate ou nos deslocamentos por Nova York.

Marvel’s Spider-Man 2 está disponível para PlayStation 5 e PC. Esta análise foi feita com base na versão de PC com uma cópia fornecida pela Sony.

Especificações do computador utilizado para a análise: Ryzen 7 5700X, RTX 3060 12 GB, 32 GB de memória RAM DDR4 3200Mhz.

Considerações finais
Desta vez assumindo o controle de dois heróis, Marvel’s Spider-Man 2 nos coloca em uma aventura dinâmica, com antagonistas poderosos e protagonistas que enfrentam o desafio de conciliar a vida comum com a missão de proteger a cidade de qualquer tipo de ameaça. A história tem um desenvolvimento satisfatório e conta com ótimas reviravoltas. No campo da jogabilidade, a Insomniac Games buscou aperfeiçoar o que já funcionava bem, resultando em uma maior variedade de opções para o jogador decidir quando e como utilizar.

O game, no entanto, ainda sofre de um problema já conhecido na franquia: a repetição das atividades secundárias. Deu para perceber que o estúdio também buscou evoluir esse quesito tentando incentivar o jogador a cumpri-las de uma forma mais natural, mas ainda assim muitas delas consiste basicamente em realizar as mesmas coisas repetidas vezes. A chegada do game ao PC com diversos problemas é algo que também não pode passar batido. Mesmo com esses problemas, Marvel’s Spider-Man 2 é aquele típico jogo em que os fatores positivos acabam se sobressaindo aos negativos.

★★★★☆Ótimo
Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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